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Linfedema: o que é e como fazer o diagnóstico e tratar
Desde o final do século XIX, a cirurgia tem sido o tratamento tradicional para o câncer de mama. Porém, tais técnicas podem levar a complicações locais de demorada resolução, que, muitas vezes, comprometem a qualidade de vida dos portadores desta neoplasia, sendo o linfedema uma das mais frequentes.
A frequência de linfedema pós-mastectomia descrita na literatura varia de 5,5% a 80%, diferença esta que depende de diversos fatores, como o critério de diagnóstico, tipo de cirurgia, uso de radioterapia e fisioterapia pós-operatória. A incidência média no Brasil, fica em torno de 40%.
Após a cirurgia, os pacientes evoluem, normalmente, com certo grau de edema, pois a capacidade de absorção do excesso de líquido fica reduzida. O inchaço ocorrido até os primeiros seis meses após a cirurgia é considerado como um edema agudo, considerando que este não é considerado linfedema (edema crônico).
Após a dissecção axilar, o sistema linfático buscará mecanismos de compensação na tentativa de suprir a ausência dos linfonodos retirados, adequando assim, a capacidade de transporte da linfa. Uma vez que ocorra a sua regressão, representa o sucesso na adaptação anatômica do sistema linfático, inicialmente prejudicado.
O linfedema pode ser definido como sendo o acúmulo anormal de proteínas e líquidos no espaço intersticial, edema e inflamação crônica, estando relacionado principalmente com as extremidades.
A alteração básica para a formação do linfedema deve-se à falência do sistema linfático. O linfedema é um problema quantitativo entre o fluxo linfático produzido e a capacidade de transporte. Se os mecanismos de compensação forem insuficientes, o equilíbrio entre a produção e o transporte estará comprometido e se a produção normal de linfa for maior que a capacidade de transporte, o linfedema aparecerá imediatamente.
A principal causa do linfedema pós-cirurgia mamária para o tratamento do câncer de mama é a retirada dos linfonodos axilares; alguns fatores como a como a idade, o índice de massa corporal (IMC), a radioterapia, as complicações pós-operatórias, a infecção, o nível da radicalidade da técnica cirúrgica são considerados fatores desencadeantes ou agravantes do linfedema. O mesmo vale para os membros inferiores, cirurgias pélvicas e/ou ginecológicas que exigem a retirada dos linfonodos pélvicos e/ou paraaóticos (da virilha e do abdômen), podem levar ao linfedema nas pernas.
Estudos prévios, relatam que o linfedema aumenta nas pacientes mais velhas e a obesidade é fator de incidência para linfedema devido a uma possível dificuldade no retorno linfático nas pacientes com maior quantidade de tecido adiposo.
O linfedema pode trazer disfunção ao paciente devido a diminuição da capacidade de distensibilidade do tecido subcutâneo das estruturas envolvidas do lado comprometido, com prejuízo na sua movimentação. Isso pode causar desde um simples incômodo a dores na região.
Pode apresentar maior suscetibilidade a infecções no braço ou pernas devido a ferimentos, picadas, ranhuras e traumas em decorrência à diminuição da capacidade de regeneração do tecido.
Diagnóstico do linfedema
O diagnóstico de linfedema pode ser obtido através de critérios subjetivos e objetivos, sendo realizado, na maioria dos casos, através da avaliação e do exame físico.
A pessoa que apresenta linfedema costuma relatar sensação de peso e de tensão no membro afetado. Normalmente, os pacientes observam as primeiras mudanças, através da dificuldade em colocar anéis, pulseiras e relógios ou ao vestir roupas e meias. Outras alterações percebidas se relacionam à aparência da pele, que se torna esticada, com ausência de dobras cutâneas, e com sensação de espessamento e tensão.
Pacientes que relatam sintomas subjetivos de linfedema podem não apresentar linfedema ao exame físico, entretanto essa discordância não pode excluir o diagnóstico ou o potencial de progressão do linfedema.
O diagnóstico da doença é basicamente clínico e os estudos de imagens, como tomografia e linfocintilografia, têm como objetivo confirmar a suspeita diagnóstica, detectar locais de má formação linfática, neoplasia e excluir outras causas de aumento do volume do membro.
Entre os critérios objetivos usados na determinação do linfedema, podemos citar:
É o método tradicional mais utilizado por fornecer uma estimativa do tamanho excessivo do segmento comprometido se comparado ao segmento normal. É realizada a medida da circunferência do membro, geralmente com medidas de 10 em 10 cm acima e abaixo do cotovelo ou do joelho.
É definida a presença de linfedema quando houver a diferença de 2 cm ou mais na circunferência de um membro em relação ao outro.
Tratamento com Terapia Física Complexa
A forma de tratamento com os resultados mais consistentes para a maior parte dos pacientes com linfedema dos membros é a Terapia Física Complexa (TFC) ou do inglês Complex Physical Therapy (CPT) ou Linfoterapia e suas variantes.
A Terapia Física Complexa é uma tétrade composta por drenagem linfática manual, cuidados de pele, compressão (por enfaixamento ou luvas) e exercícios miolinfocinéticos. Estes quatro componentes devem ser realizados conjuntamente e eventualmente podem sofrer alguma modificação na sua aplicação dependendo do quadro clínico do paciente. Se realizados separadamente o resultado pode mostrar-se ineficaz.
Os resultados da TFC dependem do estágio em que se encontra a doença e de quando se inicia o tratamento.
Os pré-requisitos para o sucesso do tratamento são:
1 - Presença de um médico especialista que seja capaz de lidar com as doenças associadas;
2 - Um fisioterapeuta especializado nas técnicas específicas para o tratamento destes pacientes;
3 - Disponibilidade de material e equipamento adequado para a drenagem linfática, enfaixamento e compressão elástica; e
4 - Aderência completa e colaboração do paciente ao tratamento.
Fases do tratamento
O tratamento é dividido em duas fases, sendo que na primeira o objetivo é a redução do volume do membro, tendo a duração de 2 a 8 semanas e a segunda é a fase de manutenção e controle do linfedema.
A TFC é um processo complexo que exige toda a colaboração do paciente em não retirar as bandagens antes do tempo prescrito, realizar os exercícios propostos, não faltar nas sessões, usar as luvas ou meias compressivas quando prescritas, manter o acompanhamento médico e seguir as orientações médicas e fisioterapêuticas. O comprometimento é a chave do sucesso.
Autora: Dra. Jaqueline Munaretto Timm Baiocchi